Fronteira Noroeste

Carta-testamento de Getúlio Vargas em Porto Lucena

A Carta-testamento de Getúlio Vargas é um documento histórico de grande significado no Brasil. Escrita horas antes do seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, ela foi dirigida ao povo brasileiro e lida durante o enterro de Vargas pelo político petebista João Goulart. Embora haja controvérsias quanto à autoria, acredita-se que tenha sido escrita pelo próprio Vargas. Nela, o ex-presidente deixa marcas profundas de seu legado na história política do país.

Uma réplica da carta, feita em metal, está situada na Praça Dom Luiz Felipe de Nadal, no centro do município de Porto Lucena, na fronteira com a Argentina. Os visitantes podem acessar o monumento, que mede cerca de 1 metro de altura, gratuitamente ao chegar no centro da cidade.

Motivo da Carta-testamento:

  • Vargas estava enfrentando uma crise política, com falta de apoio do Congresso e acusações feitas por adversários.
  • Ele havia iniciado reformas sociais, como a lei de lucros extraordinários e a criação da Petrobrás para potencializar as riquezas nacionais.
  • Eletrobrás, outra iniciativa de Vargas, também encontrou obstáculos.
  • Vargas sentia-se sufocado e impedido de continuar defendendo o povo e os humildes.
  • Na carta, ele expressa sua luta contra a espoliação do Brasil e do povo, afirmando que não tinha mais nada a oferecer além de seu próprio sangue: “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”

A Carta 

Getúlio Vargas

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam

sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa.
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como
sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e
financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e
instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A
campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o
regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça
da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de
agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja
livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que
destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas
declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de
dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu
preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo
suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora
se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o
sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao
vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e
vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício
vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama
imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o
perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me
liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu
sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a
espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as
infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na
História.

Carta-testamento de Getúlio Vargas em Porto Lucena
CEP 98980000 – Porto Lucena, RS
Praça Dom Luiz Felipe de Nadal, centro  
Telefone: (55) 2120-1452