Fronteira Noroeste

Manejo de solos deve ser foco para recuperação agropecuária no pós-enchente

As práticas de recuperação dos solos serão aliadas dos agricultores após a tragédia climática que atingiu e devastou produções ao longo do RS no mês de maio. Entre as formas de manejo, encontram-se práticas que visam recuperar atributos físicos, químicos e biológicos, fundamentais para a manutenção da fertilidade dos solos. No RS, 206.604 propriedades do meio rural foram atingidas pelas chuvas e cheias extremas, o que contabiliza 19.190 famílias rurais afetadas, segundo Relatório de Perdas produzido pela Emater/RS-Ascar.

Marcelo Biassusi, extensionista rural e assistente técnico em Recursos Naturais Renováveis do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar em Porto Alegre, explica que a fertilidade do solo resulta de atributos específicos, e, dentro desses aspectos, recomenda práticas de manejo de solo voltadas para sua recuperação.

O solo tem que ser o grande reservatório de água, que vai ficar disponível às plantas e à vida, defende Biassusi. Dentro dos aspectos físicos, o extensionista sugere manejos como a construção de cordões vegetados e de pedra, a descompactação do solo, que garante maior retenção de água, e o terraceamento, que consiste na construção de rampas niveladas uma sobre a outra em terrenos inclinados, que também serve para disciplinar o escoamento das águas da chuva e prevenir erosões. O cultivo em faixas, a rotação de culturas e as plantas de serviço, como de cobertura, são práticas consideradas úteis pelo extensionista.

A respeito de métodos de manejo para uma qualidade química e biológica do solo, Biassusi recomenda o uso de palhada e matéria orgânica, que retêm água, nutrientes e os micro-organismos necessários para a estruturação do solo, e resulta no bom desenvolvimento do sistema de raízes da planta. Além disso, Biassusi propõe, como alternativa, o pó de rocha, um mineralizador de solo que provê diversos nutrientes, que, durante as cheias, foram varridos pela água. O pó de rocha possui um tempo de atuação estendido, em razão de sua baixa solubilidade na água, e o pó de carvão, que sanitiza a terra e retém metais pesados, também é aliado no manejo do solo”, cita o extensionista.

CORREDOR DE PRESERVAÇÃO

Para Biassusi, a preservação da mata ciliar é fundamental para o desenvolvimento de áreas de cultivo. Esse tipo de vegetação fica às margens de rios, lagos ou represas e funciona como um corredor biológico, amortiza a intensidade e a força da chuva e o rápido escoamento das águas, evita o assoreamento dos rios, mantém a temperatura das águas e serve como um ambiente propício para a proliferação de micro-organismos naturais. A recomendação é de que o produtor rural busque trabalhar não com um único cultivo, mas com uma diversidade que contemple o plantio e a manutenção de árvores, que ajudam a criar microclimas e a manter o lençol freático mais próximo da superfície, favorecendo as plantas.

O extensionista explica que uma árvore transfere de 20% a 30% do que produz em sua fotossíntese para o sistema radicular e, como consequência, para o alimento dos micro-organismos presentes no terreno, de modo a disponibilizar minerais importantes, como o Fósforo, e a manter a umidade adequada para a estrutura ao solo. Apesar de árvores nativas como a aroeira, o cedro e o louro-pardo serem consideradas ideais para este trabalho, Biassusi não descarta o uso de árvores exóticas, como eucaliptos e frutíferas.

A Emater/RS-Ascar está à disposição do agricultor que orientar nas práticas de recuperação do solo. O produtor rural interessado deve procurar o escritório da Instituição em seu município, onde os extensionistas estão à disposição para fornecer todas as informações e auxílio necessários.

Foto: Divulgação Emater/RS/Ascar