Hoje, 30 de janeiro de 2025, comemoramos mais um aniversário do nascimento de Jayme Caetano Braun, um dos maiores ícones da cultura gaúcha. Nascido em 30 de janeiro de 1924, no então distrito de Timbauva, atualmente Bossoroca, na região missioneira do Rio Grande do Sul, Braun foi poeta, radialista e um dos mais renomados pajadores da história do Brasil. A pajada, uma forma de poesia improvisada, tem raízes na tradição oral do sul do Brasil e nos países vizinhos, como Argentina, Uruguai e Chile.
Ao longo de sua trajetória, Jayme Caetano Braun publicou diversas obras literárias, incluindo “Galpão de Estância”, “Brasil Grande do Sul”, “Paisagens Perdidas”, “De Fogão em Fogão” e “Potreiro de Guachos”. Além de seus livros, ele também deixou um valioso legado na música e na declamação de versos, registrando sua arte em discos como “Payadas”, “Troncos Missioneiros” e “Payador”. Seu talento e compromisso com a cultura regional o tornaram referência na preservação e na valorização da identidade gaúcha.
A Influência da História e da Cultura
Descendente de pai alemão e mãe indígena, Jayme Caetano Braun carregava em seu sangue a síntese da formação histórica do Rio Grande do Sul. Em seus versos, refletia a herança cultural e as lutas do povo missioneiro, evocando a resistência dos guaranis liderados por Sepé Tiaraju e as transformações sociais do campo.
O contexto político e econômico do Brasil nos anos 1940 e 1950 influenciou profundamente sua obra. Enquanto o país passava por mudanças estruturais, Braun se engajava politicamente no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), apoiando figuras como Getúlio Vargas e Leonel Brizola. Defendia com vigor a cultura regional, mas sempre compreendendo que a ameaça a ela vinha da penetração imperialista e das desigualdades sociais.
A luta pela terra era um tema recorrente em seus poemas. Seu compromisso com a identidade cultural do sul do Brasil o aproximou de outros movimentos nacionalistas e de resistência cultural na América Latina, como o Movimento Armorial de Ariano Suassuna e o trabalho de Atahualpa Yupanqui, na Argentina.
A Tradição e a Militância Cultural
Jayme Caetano Braun foi um dos principais responsáveis pela difusão da pajada no Brasil, consolidando a tradição dos trovadores gaúchos. Sua presença em festivais e eventos tradicionalistas contribuiu para a perpetuação dessa arte e inspirou gerações de novos artistas. Seu compromisso com a cultura regional foi além da poesia e da música: ele também se dedicou à pesquisa folclórica, documentando aspectos da medicina campeira e das lendas do pampa.
Apesar de sua vasta contribuição, enfrentou preconceito das elites acadêmicas contra a arte popular. Em resposta, compôs versos reafirmando sua identidade e seu direito de expressão, como no poema “Identidade”:
Meia dúzia de impostores
que se arvoram folcloristas
e andam — mesmo que angolistas
ciscando nos corredores
com siglas de professores
que adotaram por decreto
me chamam de analfabeto —
aceito a definição,
mas tenho o usucapião
que me concede o dialeto!
Seu legado transcendeu as fronteiras do Rio Grande do Sul, alcançando reconhecimento em toda a América do Sul. Foi amigo de artistas uruguaios e argentinos e participou de encontros internacionais de trovadores e pajadores, aproximando a cultura gaúcha da identidade latino-americana. Seu livro “Paisagens Perdidas” contém referências a manifestações culturais rioplatenses e reforça sua visão de uma América do Sul unida pela cultura e pela história comum.
Homenagens e Memória Viva
Jayme Caetano Braun faleceu em 8 de julho de 1999, em Porto Alegre. Em reconhecimento à sua importância, o dia de seu nascimento foi instituído como o Dia do Payador no Rio Grande do Sul. Diversos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) levam seu nome, garantindo que sua obra permaneça viva entre as novas gerações de gaúchos.
Hoje, ao lembrarmos seu aniversário, celebramos não apenas um poeta, mas um verdadeiro símbolo da cultura sul-rio-grandense. Jayme Caetano Braun foi e continua sendo um pilar da identidade gaúcha, eternizando em seus versos a alma do pampa e a força de um povo que resiste e valoriza suas raízes.
“Meu canto é rio, meu canto é sol, meu canto é vento. Eu tenho pátria, eu tenho berço, eu tenho glória.”
Pedro Ortaça e Jayme Caetano Braun, artistas do povo. Foto: Gabriel Ortaça