A colheita da soja foi concluída nas regiões Noroeste, Alto Uruguai, Nordeste e parte do Planalto do Rio Grande do Sul. Nas últimas lavouras colhidas, em que os produtores aproveitaram os breves períodos secos e ensolarados, os grãos retirados apresentaram condições físicas e sanitárias relativamente melhores, apesar do longo período de maturação a campo. De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado nesta quinta-feira (06/06) pela Emater/RS-Ascar, as lavouras em colheita apresentaram perdas crescentes devido à debulha natural, aos grãos germinados e avariados e às falhas na trilha, causadas pelo excesso de umidade. Destaca-se, de forma geral, a perda expressiva de qualidade dos grãos.
Ainda restam muitas lavouras de soja a serem colhidas nas regiões Sul e Campanha do RS, resultando em elevadas perdas de produção e econômicas. Na ponderação estadual, estima-se que 96% das áreas foram colhidas, estando 4% em maturação.
Até o início das intensas precipitações, ocorridas após 29/04, as produtividades obtidas eram consideradas muito satisfatórias, atingindo picos de 5.400 kg/ha e produção mediana pouco acima de 3.300 kg/ha. Entretanto, em função da impossibilidade de colheita imediata das lavouras maduras e da continuidade nas em maturação, a perspectiva para as áreas remanescentes, que representam aproximados 24% do total, foi abruptamente alterada, impactando de forma negativa, tanto a produção quanto a produtividade.
Destaca-se que a queda da produtividade da soja deverá repercutir na redução da safra estadual. A estimativa, realizada em novembro de 2023 pela Emater/RS-Ascar, indicava produção de 22.246.630 toneladas em área de 6.681.716 hectares, com produtividade de 3.329 kg/ha. A área afetada pelo evento climático está estimada em 1.490.505 hectares, e as perdas de produção são de 2.714.151 toneladas. A nova estimativa de produção estadual, descontando as perdas levantadas, deverá totalizar 19.532.479 toneladas, e a produtividade deve ser reduzida para 2.923 kg/ha.
Após a retirada da soja, parte dos produtores está realizando reparos em inúmeros locais onde ocorreu erosão do solo e buscando recuperar parte da fertilidade com a adição de corretivos de acidez e de nutrientes.
Milho – Durante o período, as condições climáticas melhoraram, permitindo o avanço da colheita, especialmente em pequenas produções, onde a operação manual foi mais viável. Nas áreas com colheita mecanizada, o processo ocorreu à medida que os grãos alcançaram níveis adequados de umidade, garantindo uma trilha mais eficiente e reduzindo os danos mecânicos. Na metade Norte do Estado, a colheita praticamente foi concluída, e estima-se que, na média estadual, alcançou 94% da área cultivada. Há ainda 5% das lavouras de milho em maturação e 1% em enchimento de grãos.
Em termos de produção, a área estimada para o milho no RS, em novembro de 2023 pela Emater/RS-Ascar, abrangia 812.795 hectares; a produção prevista era de 5.202.976 toneladas; e a produtividade, de 6.401 kg/ha. Após as chuvas e as enchentes, que iniciaram em maio, estima-se que a área afetada totalize 113.700,96 hectares, resultando em perdas de produção de 354.189,12 toneladas. A nova projeção indica que, após o evento, a produção será de 4.848.786,88 toneladas, e a produtividade estadual se reduzirá para 5.966 kg/ha.
Feijão 2ª safra – Houve continuidade na colheita, mais acelerada a partir de 31/05, após o predomínio de condições ambientais mais favoráveis, como presença de sol e temperaturas amenas, que facilitaram a redução de umidade no solo e nos grãos.
A produção estadual de feijão estava estimada, em novembro de 2023 pela Emater/RS-Ascar, em 79.743 toneladas, considerando a soma da 1ª e 2ª safra subsequente. Em decorrência das chuvas frequentes desde início de maio, constatam-se perdas de 18.244,41 toneladas, sendo 4.929,82 toneladas em cultivo único tardio, em Bom Jesus, e 13.314,59 toneladas em 2ª safra, em diversas regiões. Assim, a estimativa de safra estadual de feijão será reduzida para 61.499 toneladas, o que representa queda de 22,88% em relação à estimativa realizada inicialmente.
Arroz – A colheita de arroz prosseguiu, e houve finalização da atividade em grande parte do Estado. A área estimada de cultivo de arroz irrigado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) é de 900.203 hectares, dos quais 810.272 hectares (90%) foram colhidos, resultando em produção total de 6.824.878,5 toneladas. Restam 89.931 hectares a serem colhidos; desses, 22.952 hectares estão totalmente perdidos, principalmente na Região Central. Segundo o Irga, as áreas parcialmente submersas, que não estão totalmente perdidas, somam 17.876 hectares e abrangem diversas regiões, concentrando-se em especial na Região Central e na Planície Costeira Interna, onde as produtividades estão baixas. Além disso, restam 49.103 hectares não afetados pelas cheias, que estão sendo colhidos, mas apresentam produtividades muito inferiores às obtidas anteriormente devido às condições climáticas adversas, que dificultam a colheita.
PASTAGENS E CRIAÇÕES
As recentes chuvas intensas e enchentes causaram danos significativos às pastagens em praticamente todo o Estado. Desde a dificuldade na semeadura e no desenvolvimento até a perda de culturas já implantadas, as condições climáticas adversas comprometeram a disponibilidade e a qualidade das pastagens para o gado. Alagamentos, erosões e danos no solo são alguns dos impactos observados, que resultaram em um cenário desafiador para os produtores rurais, com impactos significativos na Bovinocultura de Corte e Leiteira, que sofre com o pastoreio inviável, comprometendo a oferta de alimento para o gado. Além disso, as enchentes têm prejudicado o acesso às propriedades, impedindo o transporte do leite e afetando a coleta e o escoamento da produção. A falta de energia foi um problema e exigiu o uso de geradores.
Em várias regiões do RS, as propriedades enfrentam dificuldades operacionais, como estradas inacessíveis em função do acúmulo de lama, além de pastagens danificadas e áreas alagadas. O aumento do volume de água em rios e córregos tem levado à remoção de animais das áreas alagadas, afetando diretamente o ganho de peso dos rebanhos. Além disso, o cenário adverso tem prejudicado, ainda mais, a comercialização dos animais de diferentes categorias.
OVINOCULTURA – Na Ovinocultura, há atrasos no manejo pré-parto, mortalidade de cordeiros e problemas nos cascos dos animais são algumas das consequências enfrentadas pelos produtores. Além disso, as enchentes têm deixado os rebanhos sem acesso às pastagens, resultando em perdas significativas de animais.
APICULTURA – Na Apicultura igualmente há muitos prejuízos, provocados pelas chuvas intensas e as enchentes, que causaram perdas significativas de colmeias e enxames, bem como inundando muitos apiários. Essas condições têm limitado a atividade das abelhas e reduzido a produção de mel, sendo mais preocupante em áreas próximas a corpos d’água, onde as colmeias foram mais afetadas.
PISCICULTURA – As chuvas intensas e enchentes impactaram de forma negativa a Piscicultura, resultando em transbordamento e rompimento de açudes, trazendo prejuízos para os viveiros e açudes, além de perda de espécies cultivadas e suspensão das atividades de despesca em certas regiões.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, os transbordamentos de tanques causaram a fuga dos peixes para os corpos hídricos. Além disso, a dificuldade de acesso aos tanques tem levado à redução na alimentação dos peixes. Na de Santa Rosa, as atividades de despesca foram interrompidas devido às chuvas excessivas. Em Santo Cristo, houve perdas quase totais de peixes em dois locais em decorrência do avanço das águas dos rios nos açudes, sem danos estruturais. Muitos açudes transbordaram, mas as perdas não puderam ser estimadas.
PESCA ARTESANAL – Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Porto Alegre, a pesca artesanal, especialmente dos pescados de água salgada, como camarão, enfrentou desafios em razão das enchentes que atingiram vários municípios gaúchos. Já em Rio Grande, na Lagoa dos Patos, em alguns pontos, há captura de camarão, porém insuficiente para a comercialização, gerando preocupação entre as famílias das ilhas. Na Lagoa Mirim, houve registro de captura de traíra e viola. Os níveis elevados de água nos rios Jaguarão e Lagoa Mirim, como consequência das chuvas, dificultam a pesca, e há relatos de poucos peixes.